Fundação de Medicina Tropical receberá ensaio clínico para a prevenção ao vírus HIV
A Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), unidade vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (Susam), fará parte de um grupo de pesquisa de instituições parceiras da FIOCRUZ/Ministério da Saúde, para realização de estudos clínicos de aceitabilidade da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), na prevenção ao vírus HIV, causador da Aids. PrEP é a combinação de dois antirretrovirais (tenofovir e emtricitabina) em um único medicamento, o Truvada. Estudos sobre o remédio mostram a sua eficácia, com 98% de chance de quem faz uso regular do medicamento, não ser infectado com o vírus HIV.
A diretora-presidente da FMT-HVD, Graça Alecrim, informa que a unidade se engajará ao projeto a partir de janeiro, com a triagem de voluntários, que serão acompanhados pela instituição, durante o período de estudo. Esse estudo clínico, disse ela, é voltado para pessoas que não estejam infectadas pelo vírus, mas que se encontrem sob maior risco, de acordo com dados epidemiológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS). O estudo já iniciou em três capitais brasileiras – Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Em Manaus, a pesquisa abrangerá 50 voluntários. De acordo com a coordenadora médica da pesquisa na capital amazonense, Romina Oliveira, o critério de escolha contemplará pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transexuais, residentes no município. “Nesta primeira etapa, serão realizados entrevista e exames para selecionar os voluntários”, afirmou.
Romina esclarece que, hoje, não se trabalha mais com o termo “grupos de risco”. “Atualmente, a OMS identifica como “populações-chave” aquelas sob maior risco de infecção pelo HIV, independente do tipo de epidemia ou contexto local. No Brasil, se considera os profissionais do sexo, HSH, pessoas trans (transexuais e travestis), usuários de drogas. Segmentos que, devido ao risco acrescido, estão mais vulneráveis”. Por conta disso, a oferta ampliada da PrEP é uma das estratégias no contexto da Prevenção Combinada indicada em situações elencadas no novo protocolo da OMS”, explica.
A coordenadora alerta que o Truvada não previne contra outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis, gonorréia e clamídia. “A prevenção pode se dar através de combinação de métodos, por isso o preservativo não pode deixar de ser utilizado”. Infectologista há quase 15 anos, trabalhando diretamente com pacientes que vivem com HIV/Aids, a médica afirma que a pesquisa prevê testagem regular e orientações para gerenciamento de risco individual. “Há 35 anos, ouve-se sobre o ‘Use Camisinha’, mas, ainda assim, não conseguimos atingir todas as pessoas. Acredita-se, portanto, que toda sociedade deve se permitir ao debate da Prevenção Combinada”, destaca.
A duração da análise clínica será de um ano, diz ela. A equipe que está à frente da pesquisa conta com infectologista, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêutico e psicólogos, que vão acompanhar os voluntários durante todo o processo. Todos os participantes serão monitorados, a cada três meses na FMT, quanto a sua evolução no uso do Truvada, o qual se mostrou seguro em estudos anteriores.
O medicamento já é aprovado como profilaxia nos Estados Unidos, e, esse ano, foi regulamentado na França. No Brasil, o Truvada não é fornecido pelo Ministério da Saúde. A previsão é que a PrEP seja implementada no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2016.
Erradicação – Atualmente, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) trabalha com a possibilidade de erradicação da epidemia do HIV até 2030. A OMS recomenda a prevenção combinada, que consiste em uso de preservativos, testagem regular, PrEP, Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e tratamento das IST, políticas de redução de danos e tratamento antirretroviral. “A camisinha como ferramenta de prevenção é de conhecimento da população, porém, pesquisas de atitudes e práticas, no Brasil, evidenciaram parcela significativa de pessoas que não a tornaram, ainda, um hábito em seu dia a dia”, frisou Romina.
Segundo a infectologista, Manaus possui grande incidência de casos com vírus HIV. De acordo com a FMT, até outubro de 2015, foram 1.025 novos casos. Desde 1986 a outubro de 2014, 13.534 pessoas foram diagnosticadas com a doença, no Estado. “É importante cada pessoa se conhecer, ter o ‘auto-cuidado’, entender os possíveis riscos ao se expor ao vírus, pois ainda existem muitas pessoas vulneráveis”, disse.
Informações – Para dúvidas e esclarecimentos sobre a pesquisa na capital, o PrEP Brasil Manaus possui o telefone 2127-3498 e o email prepbrasil.manaus@yahoo.com.br. Além do site original do estudo: www.prepbrasil.com.br
Profilaxia Pós Exposição (PEP) – No Brasil, a PEP já é distribuída pelo SUS. Em Manaus, a FMT possui o medicamento, que deve ser ingerido em, no máximo, 72 horas, para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus HIV. Na maioria dos casos, pessoas que sofreram abuso sexual, profissionais da saúde (e áreas de apoio) que foram expostas ao vírus em acidentes com agulha, ou outros pérfuro-cortantes, e relação sexual consensual, durante o qual houve falha no uso ou rompimento da camisinha.
HIV x AIDS – Ainda existe um desconhecimento sobre a diferença entre HIV e Aids. O vírus HIV é o causador da Aids. Ele afeta as células do sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo. A Aids é a doença gerada pelo vírus. Possui como sintoma a infecção das células do sangue e do sistema nervoso, culminando com infecções oportunistas.
O HIV/Aids não tem cura, mas possui tratamento adequado. A pessoa infectada pelo vírus pode passar um longo período sem apresentar os sintomas da doença. Quanto mais cedo descobrir a presença do vírus no organismo, mais eficiente será o tratamento.