Profissionais de municípios do AM serão treinados para diagnosticar precocemente câncer em crianças
Mil e quinhentos profissionais, entre agentes comunitários de saúde (ACS) e médicos, de oito municípios do Amazonas serão treinados para o diagnóstico precoce de câncer em crianças e adolescentes. A ação será realizada pelo Instituto Pensi (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil), com apoio da Secretaria de Estado de Saúde (Susam) e com incentivos do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), do Ministério da Saúde (MS).
O treinamento dos profissionais será realizado a distância, por meio de tecnologias de Telemedicina. A primeira fase do projeto foi lançada na manhã desta quinta-feira (22/02) no Hospital Universitário Francisca Mendes (HUFM). A unidade possui um Polo de Telediagnóstico e dará apoio administrativo à ação. Serão contemplados pela ação profissionais dos municípios de Eirunepé, Humaitá, Itacoatiara, Lábrea, Manacapuru, Parintins, Tabatinga e Tefé.
Nos oito municípios, existem 1.442 ACS cadastrados no MS e cerca de 129 médicos. O projeto pretende capacitar ao menos 90% dos agentes dessas cidades e 75% dos médicos, que atendem cerca de 460 mil pessoas da região. Segundo o instituto, como 43% da população do Amazonas tem entre 0 e 14 anos, a estimativa da população que poderá ser beneficiada pelo projeto é de 195 mil crianças e adolescentes.
Identificação de sinais – Treinado, o ACS poderá identificar sinais de que a criança ou adolescente pode estar com sintomas de algum tipo de câncer, e a encaminhar para um médico generalista, no próprio município. Por sua vez, o médico poderá consultar profissionais em São Paulo, que o auxiliarão com uma segunda opinião sobre o caso.
Em caso de confirmação do diagnóstico, o paciente é inserido no fluxo normal da rede estadual de saúde do Amazonas, sendo encaminhado para unidades de referência no tratamento de câncer, como a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) e Fundação Hemoam.
Telemedicina – A experiência e estrutura do Estado em Telemedicina foi um dos fatores observados para a escolha dos oito municípios, afirmou o coordenador estratégico do programa, Márcio Sanches, do Instituto Pensi. “O Amazonas é um Estado que já investe há muitos anos em alternativas de acesso à saúde, principalmente em Telemedicina. Então, o Estado já tem uma experiência bem consolidada. Sem dúvida, o ambiente é muito propício”, disse o médico.
A secretária executiva adjunta de Atenção Especializada do Interior da Susam, Edylene Maria dos Santos, elogiou a iniciativa do Instituto Pensi em escolher o Amazonas para o projeto. Edylene ressalta que o diagnóstico precoce significa maior chance de cura do paciente.
“A dificuldade de diagnóstico conduz à dificuldade de tratamento. O fato de já termos uma estrutura de Telemedicina no Estado, que contribui para o processo de diagnóstico e tratamento em tempo oportuno, é um facilitador para o projeto, pois acelera a capacitação dos profissionais, e isso vai induzir o diagnóstico o mais breve possível, pelo menos nesses oito municípios que estão contemplados”, comentou Edylene.
Sensibilização – Um dos professores do treinamento, o oncologista Renato Melaragno, afirma que não é difícil identificar os sintomas de câncer em crianças. O que falta, segundo ele, é sensibilizar Agentes Comunitários de Saúde, médicos e profissionais do Programa de Saúde da Família quanto à atenção para este tipo de causa de morte entre o público infanto-juvenil.
Segundo o médico, apesar de ser pouco divulgado, no Brasil, o câncer é a segunda maior causa de morte em 1 e 19 anos de idade. “Isso preocupa muito, porque é a segunda causa de morte no Brasil. Para melhorarmos a taxa de mortalidade, a gente tem que tratar as doenças que mais matam. Apesar de não ser muito frequente, o câncer é a doença que mais mata crianças acima de um ano de idade”, afirma o médico.
‘Projeto inovador’ – A coordenadora de Atenção Básica do município de Parintins, Elize Maria Macedo, disse esperar que o conhecimento que será passado aos seus colegas possa ajudar na qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população local. “É um projeto bem inovador. A nossa Telemedicina em Parintins é bem atuante. Com esse projeto, creio que vamos conseguir melhorar ainda mais o serviço. Vamos ter um resultado muito bom com esses diagnósticos precoce”, comentou Elize.
O Instituto Pensi é o braço assistencial da Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), da qual também faz parte o Sabará Hospital Infantil, referência nacional em atendimento pediátrico. O pediatra José Luiz Egydio Setúbal, que dá nome à fundação, veio a Manaus para participar do lançamento do programa.
“Para a gente é um desafio. Apesar de já ter vindo ao Amazonas, ainda me sentia ignorante em relação à problemática da saúde. Além de ensinarmos alguma coisa, vamos aprender bastante também. Fiquei muito impressionado. Conhecia muito projeto de Telemedicina no Brasil, mas nada parecido com o que vi aqui. Acho que é uma oportunidade para a gente conhecer o que tem aqui e divulgar”, disse José Luiz.
EAD – Ao longo do trabalho, uma equipe de especialistas, em São Paulo, será responsável pela elaboração de todo conteúdo educativo e de orientação a ser oferecida via plataforma de Educação a Distância (EAD), cedida pelo Instituto Pensi aos participantes do projeto.
A equipe de especialistas do Sabará Hospital Infantil dará o suporte aos médicos generalistas locais e apoio aos médicos da FCecon, unidade da Susam, auxiliando-os no diagnóstico e na condução inicial dos casos suspeitos de câncer infanto-juvenil, através de uma plataforma de Segunda Opinião Médica.
Já na segunda fase do projeto, a equipe de São Paulo estará disponível também para suporte em segundo nível aos especialistas de Manaus para auxílio no encaminhamento e condução terapêutica dos casos confirmados.