Outubro Rosa: Mulheres que venceram o câncer de mama contam histórias de superação
As narrativas representam mais de 400 mulheres que receberam alta nos últimos dois anos, na rede estadual
Nos
últimos dois anos, 420 mulheres tiveram a alegria de receber, em uma
consulta médica na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do
Amazonas (FCecon), a notícia que estavam curadas e poderiam recomeçar
um novo momento na vida, após o tratamento.
Três
mulheres, amigas e que dividem uma história em comum – a vitória sobre o
câncer de mama. Neste Outubro Rosa, mês de campanha para diagnóstico
precoce ao câncer de mama, elas contam a trajetória de dor, luta e,
principalmente, de esperança e vitória contra a doença.
Receber
o diagnóstico de câncer de mama, com um filho de apenas dois anos, foi
um choque para Joana Massulo, 65. Há 25 anos, quando a então paciente
recebeu o diagnóstico, a única alternativa possível era a perda total da
mama, além do tratamento com radioterapia.
Ela
relembra que sem o avanço da medicina e, mesmo com a dor de passar por
procedimentos tão invasivos, a vontade de viver e ver o filho crescer
foram maiores que o medo.
“A
gente ouvia falar no câncer muito pouco e quando se descobria que
estava com câncer podia preparar-se, que era morte. Nesse ponto, eu fui
muito positiva porque meu filho tinha dois anos e eu tinha que criar meu
filho. Então, eu lutei com todas as armas, com todas as minhas forças,
abalada ou não, eu tinha que lutar, por mim e por ele”, afirmou.
Após
a notícia de que estava curada, Joana passou a ver a vida de outra
forma e decidiu criar um grupo de apoio para mulheres que passaram e
passam pelo que ela passou. O trabalho à frente da ONG Centro de
Integração Amigas da Mama (Ciam) ressignificou ainda mais a cura para
Joana.
“Sempre
tive isso na minha cabeça que eu não ia morrer (…) e disse: Senhor
depois me mostra uma forma de agradecer. E ele me mostrou uma forma de
agradecer e foi criando o grupo de mulher das amigas da mama, para dar
suporte a outras mulheres que estão passando pela mesma situação, pelo
um câncer”, disse.
Superação – A
chegada do câncer de mama abalou psicologicamente a vida da costureira e
voluntária da causa, Naab Natividade, 52. A paciente conta que precisou
de acompanhamento psicológico para lidar com o desafio de vencer o
câncer.
“É
um sofrimento horrível, um sentimento desesperador, a gente se
questiona, questiona a Deus, questiona tudo, pensei em me suicidar
várias vezes, né? Quando eu lembro, me emociono”, relembrou.
Com
o apoio da equipe médica, da psicologia e da família, Naab se tornou
mais forte. “Eu não usei peruca, não usei chapéu, usava lenço, em casa
ficava sem nada. Fiz acompanhamento psicológico na FCecon, mesmo porque
eu chorava muito. Fui para a mesa redonda logo no início e a psicóloga
me pegou na porta e me acolheu. Eu fiquei com ela por dois anos, só de
choro”, disse.
Após
passar pelo tratamento, a profissão também mostrou uma forma de
retribuir. Ela passou a costurar próteses de tecido para mulheres que,
assim como ela, venceram o câncer de mama, mas não puderam ou quiseram
passar por uma nova cirurgia de reconstrução mamária.
“E,
hoje, eu procuro passar para as pessoas força. Na FCecon, quando eu via
alguém chorando, eu ia dar um consolo, falar da minha história e que
hoje o câncer não é sinônimo de morte, você pode lutar. Para mim é uma
superação, cada dia que eu vivo, eu agradeço a Deus pela vida.”
Histórico familiar – Na
história da Madalena Lobato, 43, o câncer foi devastador em muitos
sentidos. Após perder mãe, tia, primos e primas para a doença e passar
por uma cirurgia de câncer de colo de útero, o câncer de mama se tornou
mais uma luta a ser travada pela paciente.
Ela relata que a grande força para enfrentar o tratamento e vencer o câncer veio da família.
“Assusta,
confesso que assusta até hoje, porque nós sabemos que nós não viemos
para virar pedra, mas nós queremos cumprir o ciclo da vida que Deus nos
deu, né? Conseguir realizar sonhos, criar nossos filhos. Eu tenho uma
filha e hoje também já sou avó. Quero ver minha filha ser alguém
futuramente e ver meus netos crescerem, eu quero brincar, como eu brinco
com meu neto, como se a gente fosse duas crianças”, contou.
Madalena
passou por sessões de quimioterapia e a retirada de 12 nódulos
cancerosos. Vaidosa, mesmo com a queda de cabelo, a paciente da FCecon
não se abalou.
“No
caso, eu fiz a quimio e ela deixa muitas sequelas (efeitos colaterais)
na gente. Muitas pessoas não entendem, as pessoas da família acham que é
frescura, mas você só sabe quando você vivencia. Caiu cabelo, eu cortei
bem baixinho, tipo de homem e ele foi caindo. Mas eu focava que aquilo
era uma fase”, disse.
Atualmente,
Madalena está na fase de manutenção, realizando a hormonioterapia, após
passar por cirurgia para retirada da mama com reconstrução mamária, mas
se considera vitoriosa.
“Eu
agradeço muito a Deus por ter me curado e a equipe médica, e as ONGs
que lutam pelos nossos direitos. Eu sou muito grata ao SUS, sim. Eu
costumo falar que não sinto inveja de quem tem plano de saúde porque eu
já passei por quatro cirurgias na FCecon e eu fui muito bem tratada”,
afirmou.
Fotos: Rodrigo Santos/ SES-AM