Rede de saúde mantém serviço de atendimento a vítimas de violência sexual
Estudo do Observatório da Mulher contra a Violência, ligado ao Instituto de Pesquisa DataSenado, aponta que são registrados no País, por ano, em média, 48,1 casos de estupros contra mulheres por grupo de 100 mil habitantes. No Amazonas, que aparece com média de 49,7 casos, o Governo do Estado integra a rede de atendimento às vítimas deste tipo de violência por meio do Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Savvis), que funciona no Instituto da Mulher Dona Lindú. O serviço tem seis anos e meio de criação e já realizou 434 atendimentos.
Na rede estadual, o Savvis tem cobertura também na maternidade Ana Braga (zona Leste). Em regra, as mulheres são encaminhadas ao serviço pelos Distritos Policiais e por outras unidades de saúde. Mas em muitos casos as vítimas procuram o atendimento por contra própria. “Orientamos até que as vítimas priorizem o atendimento médico. Depois a delegacia. Porque muitos dos casos precisam de cuidados imediatos. Não dá pra esperar”, orienta Fábia Ileanna, uma das psicólogas que atua no serviço.
Trauma
Segundo Fábia, um dos cuidados adotados nesse tipo de atendimento é garantir que o acolhimento da vítima pelo serviço seja o menos traumático possível. “Por isso, quando ela chega aqui, reunirmos toda a equipe para que ela só fale da violência que foi vítima apenas uma vez, e não tenha que contar a história para cada profissional diferente que precisar ser atendida. Porque quem passar por uma situação dessas, cada vez que conta acaba revivendo tudo”, explica a psicóloga.
A coordenadora do Savvis do Instituto da Mulher, a enfermeira Gisele Batáglia, ressalta que o atendimento às vítimas não se restringe a emergência. Há toda uma rede de serviços e profissionais que acompanham as pacientes por até seis meses. “A gente faz o atendimento emergencial, e o ambulatorial também. Damos um acompanhamento de seis meses (após o atendimento emergencial) para as vítimas”, explica Gisele. Em 2016, paralelo ao recebimento de 97 casos novos, o Savvis realizou, paralelamente, 294 atendimentos ambulatoriais.
Aborto legal
Gisele lembra que a legislação autoriza a toda vítima de estupro optar pela interrupção da gravidez. O protocolo para esse tipo de intervenção é adotado no Savvis do Instituto da Mulher desde sua fundação, em julho de 2010. A partir de 2014, a unidade de saúde estadual passou a ser a única a atuar nesse tipo de caso, após um acordo firmado com a maternidade Moura Tapajós (da rede municipal), que também oferece o serviço de atendimento às vítimas de aborto.
Dados do Savvis do Instituto da Mulher registram 48 casos de vítimas de estupro que fizeram a opção pelo aborto, entre 2010 e 2016. Segundo Gisele, mais de 90% das mulheres atendidas na unidade fazem essa opção.
“Toda vítima tem direito legal de fazer o aborto. Ela tem três opções: o aborto; manter a gravidez e ficar com a criança; ou manter a gravidez e colocar a criança para adoção. A gente sempre esclarece isso para ela. Se optar pelo abordo legal, há todo um protocolo a ser seguido, e um acompanhamento multiprofissional. O mais comum é elas optarem pelo aborto”, comenta a coordenadora. Em 2016, a unidade de saúde realizou 14 abortos. Dois a mais que no ano anterior.
A faixa etária das vítimas que mais procuram atendimento no Savvis do Instituto da Mulher é a de 20 a 29 anos, com 101 casos até o ano passado. Em seguida estão as vítimas com idade entre 10 e 14 anos, com 84 ocorrências registradas até 2016.
O Instituto da Mulher está localizando na rua Recife, no bairro Adrianópolis, zona Centro-Sul, ao lado do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto. A unidade funciona 24h por dia, e informações sobre o serviço podem ser obtidas também pelo telefone 3643-8183. Na zona Leste, o serviço está disponível à população na maternidade Ana Braga, na Alameda Cosme Ferreira, bairro São José, zona Leste.
Estudo
De acordo com o estudo “Panorama da violência contra as mulheres no Brasil”, do OMV, divulgado na sexta-feira, 10, as regiões Norte e Sul foram as que apresentaram os maiores índices de ocorrência de estupro em todo o País. Os estados destacados pelo levantamento são Acre, Mato Grosso do Sul e Roraima. Nessas unidades da federação, as taxas de registro desse tipo de violência são superiores ao dobro das registradas em outros estados.
Na região Norte, o Amazonas foi o que teve a menor taxa de registro de estupro: 49,7 por 100 mil. O Acre liderou com 120,7, seguido de Roraima com 110,4, Amapá (90,9), Rondônia (89,1), Pará (72,8) e Tocantins (56,5). O estudo foi realizado por meio de diferentes indicadores, atualizados até o ano de 2014.