Pesquisa avalia resultado de anticonvulsivante no controle da dor em pacientes oncológicos

A eficácia de um medicamento anticonvulsivante está sendo avaliada como auxiliar no controle da dor pós-operatória, em pacientes submetidos a cirurgias de cabeça e pescoço na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade da Secretaria de Estado de Saúde (Susam). O efeito da Gabapentina como medicação pré-anestésica é tema de um estudo, desenvolvido via Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), no âmbito da instituição, sob a orientação da anestesiologista Mirlane Cardoso, da FCecon. A expectativa é que 40 pacientes participem da pesquisa.


Atualmente, a medicação já é utilizada para o tratamento de dores ocasionadas por lesão nos nervos periféricos. Mas, a proposta de atualização do protocolo da dor pós-operatória nos pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço, é nova na Fundação.


Doutora em Farmacologia e gerente do Serviço de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos da FCecon, Mirlane Cardoso está orientando acadêmicos que apostaram no projeto, cujo título é: “Avaliação do feito da Gabapentina no Controle da Dor Pós-Operatória em Pacientes Submetidos à Cirurgia de Cabeça e Pescoço”.


A dor é definida por entidades que lidam com o tema, como uma condição subjetiva determinada pelas experiências de cada indivíduo ao longo da vida. Em pacientes oncológicos, a dor causada pela doença é classificada, na maioria dos casos, como crônica, segundo a anestesiologista, que tem o reconhecimento da Associação Médica Brasileira, como uma das poucas médicas ‘paliativistas’ do País.


De acordo com Mirlane Cardoso, os resultados podem ajudar a diminuir o tempo de permanência do paciente no hospital, promovendo uma recuperação mais rápida, o que, por si só, já é considerado um grande avanço assistencial.


“A dor pós-operatória, se não tratada adequadamente, pode evoluir para uma dor crônica”, destacou. A especialista também explicou que, na oncologia, especialmente, há de se considerar as especificidades da dor, que ocorre de diferentes formas, considerando o tipo, o local, a neoplasia maligna e os tratamentos antitumorais aplicados.


“Uma pessoa submetida a uma toracotomia para o tratamento de tumores – abertura do tórax -, por exemplo, não pode ser comparada a um paciente que fez uma Histerectomia – remoção parcial ou total do útero. Os procedimentos são diferentes e têm estímulos dolorosos distintos”, explicou.


Além disso, segundo a médica, um paciente que passou por uma cirurgia de duas horas, é diferente do que foi submetido a um procedimento mais extenso e, sendo assim, os estímulos e a metodologia de controle, precisam ser diferenciados. Sem o tratamento adequado, a dor pode ser ampliada para outras partes do corpo, o que denomina-se neuroplasticidade – uma espécie de dor fantasma, segundo especialistas.


“De cada dez pessoas operadas, quatro evoluem para a dor crônica no pós-operatório. Dependendo do tipo de cirurgia e da técnica utilizada, o estímulo cirúrgico é muito grande e não é identificado inicialmente”, alertou Mirlane Cardoso.  Por isso, a necessidade do cuidado prévio, antes da evolução.


 Acompanhamento


Segundo Amanda Pascoal, estudante do 5º período de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e pesquisadora no projeto do Paic, os pacientes foram acompanhados durante um período de três meses.

Pascoal pontuou que há poucos estudos revisados sobre o uso da Gabapentina no tratamento da dor no pós-operatório. “O estudo está na fase inicial. Todavia, dependendo do resultado final, pode-se pensar na introdução do fármaco como um medicamento fixo na anestesia”, disse. Os resultados preliminares foram apresentados a uma banca de mestres e doutores convidados pela FCecon, no último mês. Na ocasião, foram analisadas quase 40 pesquisas em desenvolvimento através do Paic, todas abordando algum aspecto da oncologia.


Escala de dor


A escala reconhecida mundialmente para a intensidade da dor, utilizada em trabalhos científicos, vai de zero a dez. Durante a pesquisa, o paciente identifica o nível da própria dor. De zero a três – dor leve; de quatro a sete – dor moderada; oito a dez – dor intensa. Mirlane Cardoso destaca que o tratamento do paciente é estabelecido conforme a opção apontada. Também é avaliada no processo a redução da utilização de analgésicos comuns a pacientes no pós-operatório.


Sabendo da importância do tema, a FCecon dispõe, em sua estrutura, um serviço exclusivo para o tratamento da dor.  O setor dispõe de equipe multidisciplinar, que realiza atendimentos na instituição e também fora dela, deslocando-se, em casos de necessidade, até o domicílio do paciente fora de possibilidade terapêutica, para promover a assistência adequada.


Paic


O Paic é desenvolvido no âmbito do Departamento de Ensino e Pesquisa da FCecon, com o objetivo de inserir acadêmicos das mais diversas áreas, no campo científico. O programa recebe o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).